02.05.10

Gestão e governança: não basta ser convergente

Joal Teitelbaum
Empresário e membro da Academia Internacional de Qualidade
Jornal do Comércio, 3 de maio de 2010

Há um consenso global entre as maiores lideranças de gestão em que Peter Drucker foi um homem bem a frente de seu tempo. Mas este homem que criou, fez evoluir e inovou os fundamentos da gestão, em mais de uma oportunidade expressou sua mágoa ao afirmar “que transformar a visão da gestão em realidade não é suficiente, é preciso que esta realidade se concretize na prática”.

A crise de 2008 e que se estendeu a 2009 e hoje ainda produz abalos teve sua origem o “default” da gestão na área financeira, que desaguou em um oceano de desconfianças e de falta de credibilidade que se reflete ainda hoje na economia global com incertezas não bem definidas e que, no mínimo, obrigam-nos a sermos vigilantes.

Ao projetarmos este cenário para temas que tenham injunção nos rumos de um país, de uma região e mesmo de um mundo globalizado e tendo-se presente que o fabricante pode montar o mais avançado dos computadores em 20 minutos, mas que um cérebro demora 20 anos para estar apto a operacionalizar, comprova-se que a humanidade continua em busca do sistema que venha a construir o modelo que seja convergente e congruente. Quando se perde o timing de um processo, de nada adiantou se existiu ou não convergência entre os intervenientes. Portanto, a convergência é um fundamento necessário, mas não suficiente.

Não podemos nos iludir. As duas forças primaciais de um país que pretenda ser uma nação, ou seja, que tenha seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) qualificado que indique o nível de qualidade de vida do seu povo, são a educação e a infraestrutura. As demais forças não se estruturam sem estas duas, e as reformas, embora indispensáveis, são agentes.

Quais os vetores das duas forças? Na educação, criando-se pensadores através da gestão do conhecimento e construindo a infraestrutura através de uma governança pública pragmática, sem devaneios de qualquer ordem. Entendemos que toda a sociedade é convergente neste sentido. Basta, então, que os detentores de mandato público e privado sejam também congruentes. Esta simultaneidade entre convergência e congruência é o que, modestamente, acreditamos que seja uma das lições que Peter Drucker quis nos ensinar.